sábado, 7 de maio de 2016

Ainda Há Tempo, 10 anos depois

João de Carvalho

Em 2006 Criolo lançou seu primeiro disco, o Ainda Há Tempo. Um clássico, cheio de pérolas que já integraram o repertório de vários shows. Mesmo assim, o disco de 2006 é um disco de rap underground, e longo pros ouvidos atuais (que contam com uma saturação de informação). É um disco anterior à fiel parceria entre Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral. Nesta época seu principal parceiro apoiador era o DJ Dandan. União responsável pela criação da Rinha dos MC's, festa de hip-hop que formou e revelou vários dos principais talentos da nova geração de rappers de São Paulo. Ainda Há Tempo é um disco de um dos manos mais loucos do movimento hip-hop, o Criolo Doido. Dá uma olhada num show dele, na época: Criolo Doido, Live in SP.

Ontem, dia 06/05/2016, Criolo lançou seu terceiro álbum com produção do Ganjaman. Se trata de uma reedição do disco de 2006. Esse lance de regravar o mesmo disco, anos depois, com algumas adaptações, não é algo novo. Caymmi, por exemplo, regravou praticamente seu mesmo disco, voz e violão, em 1954 e 1959 (Canções Praieiras, e Caymmi e Seu Violão). Outro exemplo mais recente, Chico César regravou seu clássico Aos Vivos 16 anos depois. Ainda Há Tempo, 2016, se insere nessa tradição de álbuns revisitados pelos próprios autores. 


O disco abre com É o Teste, canção que traz os versos:

"E a minha mãe que cuida de mim independente da
minha idade,
E quem não tem mamãe, valoriza e tem saudade.
Eu respeito, há como eu respeito,
Amor de mãe não se escreve, aí não tem defeito.
Seria tão bom se a mãe da gente não sofresse,
Não ficasse doente e também não envelhecesse.
É coisa ruim, hoy, a gente até esquece,
As mães que não compreendem os manos que cantam rap."

(Oportuno para a data de lançamento, próximo ao dia das mães.) 

Com a já prevista altíssima qualidade de produção musical, o disco traz oito textos preciosíssimos para os dias atuais. Uma ótima oportunidade pra quem não conhece as canções mais antigas do Criolo se aproximar mais do movimento hip-hop, e pra quem já as conhece, percebê-las de outra forma. E que não passe desapercebido que a atualidade dos textos revela que os problemas que nos afligem são crônicos, e que enquanto não encararmos o rompimento com os ciclos viciados que estruturam nossa sociedade não estaremos minimamente preparados para o vertiginoso desmoronamento de um sistema em colapso, como o que vivenciamos. 

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