quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Se cuida, Chapa. Novo clipe de Emicida

João de Carvalho

Vamos começar pela constatação de que vivemos uma guerra, ok!? 
São índices de guerra mesmo, com mortes diárias.
No RAP é comum, por exemplo, a metáfora da geografia local - periferia - com a Faixa de Gaza.
Se você ainda não se convenceu disso eu sugiro que vc escute a fala do Eduardo, um MC muito importante dentro do hip-hop. Vê o que ele fala aqui: Suburbano Entrevista.

E nesse ritmo de um lançamento áudio-visual por mês, justamente ontem, no fatídico dia 31 de agosto de 2016, Emicida lançou sua homenagem às Mães de Maio.


Certo, ocorre uma guerra em nosso país, mas é difícil de perceber que ela existe pois não é uma guerra comum, daquele tipo que se aprende na história. Essa guerra daqui é maquiada, camuflada, e as bandeiras muitas vezes se confundem.
É importante dizer isso pois esse é o contexto do novo clipe do Emicida: um cenário de guerra camuflada.
Confiram o novo clipe aqui: Chapa



Existe um mote dentro do hip-hop que é "se a história é nossa, deixa que nóis escreve...". Emicida vem trabalhando muito bem nesse sentido, e quase todo clipe que ele lance vem acompanhado de um mini documentário, de modo que o público sempre pode se aprofundar de cara na escuta e compreender melhor várias questões. Foi assim com o clipe de Boas Esperança, que saiu já acompanhado de um mini documentário contando sobre a construção do enredo e as vivências na ocupação Mauá. Como vocês viram, no clipe de Chapa, o vídeo traz a questão das consequências dessa guerra real, cujo alvo é a pele negra, no relato da Mães de Maio. Emicida lançou no mesmo dia, pelo portal Jornalismo Periférico, uma entrevista sobre o lançamento do clipe. Assistam aqui: Chapa pode ser qualquer um de nós


Chapa é uma canção do último disco do rapper paulista Emicida. O álbum é um projeto que envolveu uma viagem para três países da África e problematiza a questão da escravidão em nosso país. O primeiro vídeo que lançado como divulgação do álbum foi Mufete, uma canção sobre as periferias africanas. O segundo foi o bombástico Boa Esperança, onde o MC apresenta uma rebelião de empregadas domésticas. O terceiro foi a doce Passarinhos, onde o clipe sugere um banditismo literário, em que jovens roubam livros de sebos. O quinto foi o clipe de Mãe, um novo diálogo cancional entre Emicida e dona Jacira (o primeiro foi na lapidar Crisântemo). O sexto foi o clipe de Madagascar, onde entramos no sonho de um empacotador de mercado. E nesse ritmo de um lançamento áudio-visual por mês (!!!), justamente ontem, no fatídico dia 31 de agosto de 2016, Emicida lançou sua homenagem às Mães de Maio.

Pra mim o recado a mensagem bateu de cara assim, como uma sincronicidade da rede, se cuida, Chapa.
Infelizmente a guerra vai esquentar.