sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Crivela e o recalque fascista

João de Carvalho

Hoje o prefeito do Rio deu um tiro no pé. Censurou uma HQ por conter um beijo gay e fez por promover a revista, que esgotou.

Uma notícia dessas que vai ficando, infelizmente, cada vez mais comum. A floresta continua queimando, autoriades indígenas assassinadas e ameaçadas de morte, jovem negro chicoteado, cortes na educação e cultura, direcionamento evangélico pra ANCINE, desmonte diário da ciência e pesquisa nacional, bem como das universidades, enfim, são tantas notícias que nos evocam um sentimento de revolta. Ao menos a notícia de hoje fez o recalque do Crivela tomar naquele lugar.

No carnaval deste ano Criolo lançou Etérea. O primeiro play do post vai com a chamada: teu bolo Crivela, Criolo revela:



Pra nos fortalecer cantemos à Jah! Fogo, Jah, fogo em quem merece! Chico César lançou ontem uma versão de estúdio de seu novo hit, Pedrada! A chamada deste segundo play vai como: Chico xamã chama a chama! 



Saúde à resistêcia cultural brasileira!


Observações da Coruja: O novo disco de Siba

João de Carvalho


Alô amigo(a), hoje, dia 6 do 9 de 2019, Siba acaba de lançar seu terceiro álbum solo: Coruja Muda.
E o que essa Coruja sabe? Corujas são muito sábias, dizem, e o que será que esta cala? O que é dito no não dito, nas metáforas anímicas do disco desta Coruja? Coruja Muda, personagem satélite, observadora que batiza a primeira canção do álbum, animada com o canto xamânico de Chico César.  Um disco anímico, terreno, não humano; canções trilha pro balanço do fimrecomeço do mundo.



Escuta aí e me diz quem cê acha que é o Tatú? E o Urubú? E o Pato? E o Carcará na gaiola, e quem será o juíz da partida do Meu Time. A ironia, o humor ácido e a camuflagem são elementos estéticos presentes na lírica de Siba desde muito tempo. Mas é no disco que vem ao mundo hoje que tais elementos chegam ao seu momento mais expressivo - pois isso é qualidade do artista e do Tempo. Das demandas do tempo histórico do artista narrador. E as onze faixas que sustentam os quase cinquenta minutos de escuta desafiam o intelecto e a senssibilidade do ouvinte. Porém será nescessário repetir várias vezes estes quase 50 minutos, mas creia, o Barato é Pesado!



Você pode escutar o disco em várias platoformas virtuais de música.
Deixo o link do youtube da alquimia poéticomusical:
https://www.youtube.com/watch?v=Wk_BeMnPCUU

Boas escutas!

domingo, 20 de janeiro de 2019

O Livro e o Sagrado dos Racionais

João de Carvalho


Ano passado me atropelou, acabou que não movimentei o blog.
Enfim, 2019. 20 dias de Bolsonaro. Teremos muito trabalho.
Inicio o doutorado em literatura estudando RAP.


O Hip-hop é maior que o RAP, que é maior que um único grupo musical.
Mesmo assim, os Racionais constituem a família mais importante do cenário do RAP nacional.
Racionais MC's é a mais poderosa máquina de guerra cultural em atividade pra essa "Era" que iniciamos.

"A máquina de guerra entretém com as famílias uma relação muito diferente daquela do Estado. Nela, em vez da ser célula de base, a família é um vetor de bando, de modo que a genealogia passa de uma família a outra, segundo a capacidade de tal família, em tal momento, em realizar o máximo de solidariedade agnática. ... O que estamos querendo dizer, na verdade, é que os corpos coletivos têm franjas ou minorias que reconstituem equivalentes de máquinas de guerra, sob formas por vezes muito inesperadas, em agenciamentos determinados tais como construir pontes, construir catedrais, ou então emitir juízos, ou compor música, instaurar uma ciência, uma técnica..." Deleuze e Guattari, Mil Platôs vol. 5, páginas 33 e 34.



Por estes dias foi que vi fisicamente, na casa de um mano, o livro Sobrevivendo no Inferno, dos Racionais MC's, lançado ano passado pela Companhia das Letras. Só pelas chamadas virtuais do lançamento eu não havia prestado muita atenção, mas agora vendo-o nas mãos, é que fui compreender melhor a importância do fato. O livro tem as folhas com laterais douradas, parecendo uma Bíblia! rs
Não é só um livro; é um livro místico, sagrado.

Fez inclusive o caminho natural desta espécia de literatura; consagrou-se como literatura oral dentro da cultura nacional para só então se tornar um texto impresso em forma de livro. 


É importante ter em mente que todo o retrocesso social que estamos vivendo foi preparado culturalmente dentro dos cultos neo-pentecostais. É esse o campo de disputa que os Racionais conseguem tocar. As canções, passados 21 anos de escutas e vidas envolvidas, tornam-se bibliografia para o vestibular de uma das principais universidades do país. 

Vale a pena acompanhar alguns vídeos - que tb são textos/documentos. 
Segue uma lista de sugestões complementares, além das já articuladas neste texto:

Existem muitos níveis de leitura e de importância desta obra, e um deles, numa das superfícies mais profundas, talvez seja justamente a articulação de uma cultura oral, multimeios, com o universo do livro. Essa articulação, parece-me, é uma das linhas de fuga, um dos campos à serem explorados para a militância dos próximos anos. O estímulo à leitura pode, de muitas formas (isso eu desenvolvo melhor em outro texto), se tornar uma estratégia de sobrevivência de bando fundamental neste momento que vivemos. 



Claro que isso tudo não é novidade. 
Mas, pra mim, é uma comovente atualização das intensidades deste momento.