quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Algumas Escutas ...

       Um dos pilares do curso "A Canção e Seus Sentidos" é a reflexão critica e criativa sobre as obras. Neste sentido, venho ressaltando, junto aos alunos, a importância do trabalho de escrita. Tive o prazer de ter 3 artigos aprovados na Revista Brasileira de Estudos da Cancão, o ultimo, sendo fruto direto deste curso, em parceria com o amigo/aluno e mestre Danilo Lagoeiro.
        Caymmi foi minha primeira vítima. Me lembro da primeira vez em que escutei a canção “O Mar”: foi um grande impacto. Estudante do primeiro ano do curso de Licenciatura em musica da Universidade Estadual de Londrina – isso foi em 2002 – cantávamos a segunda parte dessa canção na disciplina de canto coral, como aquecimento. Não conhecia a canção inteira. Fui ao sebo e voltei para casa com um disco da série Musica Popular Brasileira, aquela famosa série da abril cultural. Quando cheguei em casa e escutei o disco... me lembro da cena da Rosinha louca na beira da praia até hoje! Lembro que a palavra “endoideceu” parecia que era pronunciada de uma maneira diferente, em outro lugar da boca, ou era a harmonia que mudava, ou a dinâmica, mas quando de fato escutei a canção outras vezes, não era nada disso. Mas o efeito daquele “endoideceu” marcou muito minha imaginação.
        Quase 10 anos depois eu fui compreender o que havia ocorrido naquele dia, e isso se deu justamente durante a reflexão intensa que resultou em “O Sublime Mar de Caymmi”. Quem ainda não leu está perdendo, rsss :

      Logo depois me embrenhei no então recém lançado disco do Chico Buarque: Chico. O álbum me encantou por completo, e foi a primeira vez que senti realmente escutar “o que estava acontecendo”. É muito bom escutar algo que te revele o mundo que vivemos, e com o Chico eu pude escutar a Modernidade Liquida do Baumman sob cada faixa do disco (já tenho um artigo pronto sobre isso, mas ainda inédito). Escolhi “Tipo um Baião” para escrever – na verdade a ideia inicial era escrever sobre Caymmi e Chico em um mesmo texto, sobre como a metáfora pode invadir a macro-forma da canção. Novamente o trabalho de escuta focado me revelou coisas surpreendentes, como a estreita ligação que existe entre esta obra e “Olha pro Céu”, do véio Lua.
        Pra quem ainda não leu,
“Coração Sanfona: análise de “Tipo um Baião”, de Chico Buarque” :

      Por fim, o Danilo Lagoeiro me contou do dialogo que ele havia notado entre a canção “Valsa pra Biu Roque”, da Céu e do Beto Villares, e uma canção do Siba e a Fuloresta chamada “Maria, Minha Maria”, cantada pelo próprio Biu Roque. Começamos o trabalho de reflexão durante o curso e aproveitamos a chamada de artigos de nossa querida RBEC como estimulo para aprofundar as escutas intertextuais. Este trabalho resultou no artigo “Debaixo da Condesseira e um Modo de Escuta Intertextual”: http://rbec.ect.ufrn.br/data/_uploaded/artigo/N3/RBEC_N3_A4.pdf.

     Penso que todos estes trabalhos são um exercício de percepção, e de grande utilidade tanto para criadores, como para educadores que trabalham com a arte musical mais comum de nosso país. Espero que este trabalho possa continuar, e que os alunos deste primeiro semestre de 2013 aproveitem o curso assim como as turmas passadas. Que este curso possa transformar nossas percepções – incluo a minha, que muda a cada dia.

Abraço!
João de Carvalho



terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Vamos escutar?


PROJETO DO CURSO: A Canção e seus Sentidos


Prof.: João de Carvalho

Introdução:
Dentre todas manifestações artísticas que o homem desenvolveu para se expressar, a canção, muito provavelmente, a forma que mais está presente em nosso cotidiano. Ouvimos músicas todos os dias, em todos os lugares – muitas vezes até contra a nossa própria vontade – e esta música, em sua maioria das vezes, é composta por sons e letra, ou seja, se trata de uma canção.
Porém, até mesmo em decorrência deste uso desenfreado da canção, esta linguagem é cada vez mais vista como simples entretenimento, utilizada somente para anestesiar a solidão que envolve o homem contemporâneo. Até mesmo entre os profissionais da música é pouco incentivado uma leitura que leve em conta os valores da canção enquanto um produto cultural artístico, capaz de nutrir a imaginação, os afetos e o conhecimento de quem entra em contato com sua forma de existência.
Por ser a canção uma linguagem de entrecruzamento de outras linguagens, esta exige de seus ouvintes uma postura de igual confluência de percepções e parâmetros para sua interpretação. Esta postura é pouco incentivada no mundo de hoje, que cobra de seus viventes uma especialização profissional cada vez mais afunilada.
O exercício de reflexão sobre canções se torna, desta forma, uma espécie de resistência (po)ética e cultural sobre as imposições latentes desta modernidade Líquida.
Para os profissionais da educação musical este curso é de uma urgência incomensurável, haja vista que a linguagem musical que compõe a cultura dos alunos – na esmagadora maioria dos casos – é a canção. Sem os conteúdos interdisciplinares básicos para a compreensão desta linguagem, as propostas de ensino ficarão sempre fadadas a se utilizarem da canção para explicar elementos musicais, e nunca forjarão nos alunos uma consciência de quais são os valores simbólicos e culturais que envolvem uma canção. Isto é, no mínimo, negligenciar o próprio contexto cultural dos alunos.
Também aos profissionais e estudantes das áreas de Artes Cênicas, Artes Plásticas, Pedagogia, Letras, Jornalismo, Filosofia e História, é imprescindível uma visão ampla do fenômeno cancional, para que não incorram em um uso – e estudos – superficiais ou incoerentes.

Programa Didático

Objetivo Geral:
  • Desenvolver a consciência de que a canção é uma arte de síntese de linguagens e que possui um valor cultural que extrapola os limites do simples entretenimento.
Objetivos Específicos:
  • Compreender como se dão os encontros entre as linguagens literária e musical dentro do artesanato da canção.
  • Perceber aspectos referentes à inserção cultural da canção no Brasil.
  • Exercitar a analise e a composição de canções.
  • Praticar a reflexão concentrada e a elaboração de artigos sobre o assunto.
Público Alvo:
  • Todos os estudantes e profissionais que trabalham de alguma forma com o ensino de música, ou que se utiliza da música.
  • Estudantes dos cursos de Música, Artes Cênicas, Artes Plásticas, Pedagogia, Letras, Jornalismo, Filosofia e História.
  • Profissionais que já atuam na área da música, do teatro e professores de Arte da rede Pública de Ensino.
Conteúdos:
  • Elementos da Poesia: Melopéia; Fanopéia e; Logopéia. Elementos de Compatibilidade: Tematização; Passionalização; Figurativização e; Iconização. Elementos da Música: Melodia; Harmonia; Ritmo; Forma; Instrumentação e; Textura. Elementos sócio/culturais: Inserção Cultural; Diálogos Intertextuais.
Metodologia:
  • O curso se desenvolverá através de um primeiro módulo (12 aulas) em que são apresentados os elementos básicos da canção e suas ferramentas de interpretação por meio de análises conduzidas pelo professor, seguidas de exercícios de composição ou de analise.
  • O segundo módulo (4 aulas) inclui uma participação ainda mais ativa dos participantes, onde cada aluno deverá apresentar a analise uma canção de sua preferência, ou uma composição original trabalhando com os elementos estudados.
  • Vários textos de apoio serão sugeridos como complementação aos assuntos.

    Duração e Valores:
    Dezesseis encontros semanais de uma hora e meia. Turmas de até oito alunos (minimo 5). Setenta reais por aluno (70,00 R$). Os interessados devem mandar um email para jocarv1984@yahoo.com.br dizendo quais os dias da semana e quais os horarios de sua preferencia.