Um dos pilares do curso "A Canção e Seus Sentidos" é a
reflexão critica e criativa sobre as obras. Neste sentido, venho
ressaltando, junto aos alunos, a importância do trabalho de escrita.
Tive o prazer de ter 3 artigos aprovados na Revista Brasileira de
Estudos da Cancão, o ultimo, sendo fruto direto deste curso, em
parceria com o amigo/aluno e mestre Danilo Lagoeiro.
Caymmi foi minha primeira vítima. Me lembro da primeira vez em que
escutei a canção “O Mar”: foi um grande impacto. Estudante do
primeiro ano do curso de Licenciatura em musica da Universidade
Estadual de Londrina – isso foi em 2002 – cantávamos a segunda
parte dessa canção na disciplina de canto coral, como aquecimento.
Não conhecia a canção inteira. Fui ao sebo e voltei para casa com
um disco da série Musica Popular Brasileira, aquela famosa
série da abril cultural. Quando cheguei em casa e escutei o disco...
me lembro da cena da Rosinha louca na beira da praia até hoje!
Lembro que a palavra “endoideceu” parecia que era pronunciada de
uma maneira diferente, em outro lugar da boca, ou era a harmonia que
mudava, ou a dinâmica, mas quando de fato escutei a canção outras
vezes, não era nada disso. Mas o efeito daquele “endoideceu”
marcou muito minha imaginação.
Quase 10 anos depois eu fui compreender o que havia ocorrido
naquele dia, e isso se deu justamente durante a reflexão intensa que
resultou em “O Sublime Mar de Caymmi”. Quem ainda não leu está
perdendo, rsss :
Logo depois me embrenhei no então recém lançado disco do Chico
Buarque: Chico. O álbum me encantou por completo, e foi a primeira
vez que senti realmente escutar “o que estava acontecendo”. É
muito bom escutar algo que te revele o mundo que vivemos, e com o
Chico eu pude escutar a Modernidade Liquida do Baumman sob cada faixa
do disco (já tenho um artigo pronto sobre isso, mas ainda inédito).
Escolhi “Tipo um Baião” para escrever – na verdade a ideia
inicial era escrever sobre Caymmi e Chico em um mesmo texto, sobre
como a metáfora pode invadir a macro-forma da canção. Novamente o
trabalho de escuta focado me revelou coisas surpreendentes, como a
estreita ligação que existe entre esta obra e “Olha pro Céu”,
do véio Lua.
Pra quem ainda não leu,
“Coração Sanfona: análise de “Tipo um Baião”, de Chico
Buarque” :
Por fim, o Danilo Lagoeiro me contou do dialogo que ele havia notado
entre a canção “Valsa pra Biu Roque”, da Céu e do Beto
Villares, e uma canção do Siba e a Fuloresta chamada “Maria,
Minha Maria”, cantada pelo próprio Biu Roque. Começamos o
trabalho de reflexão durante o curso e aproveitamos a chamada de
artigos de nossa querida RBEC como estimulo para aprofundar as
escutas intertextuais. Este trabalho resultou no artigo “Debaixo da
Condesseira e um Modo de Escuta Intertextual”:
http://rbec.ect.ufrn.br/data/_uploaded/artigo/N3/RBEC_N3_A4.pdf.
Penso que todos estes trabalhos são um exercício de percepção, e
de grande utilidade tanto para criadores, como para educadores que
trabalham com a arte musical mais comum de nosso país. Espero que
este trabalho possa continuar, e que os alunos deste primeiro
semestre de 2013 aproveitem o curso assim como as turmas passadas.
Que este curso possa transformar nossas percepções – incluo a
minha, que muda a cada dia.
Abraço!
João de Carvalho
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