quinta-feira, 20 de junho de 2013

Sobre algumas canções e a revolta do vinagre.


Não são só 20 centavos! Isso é certo. Mas, então, o que é isso?
É um ato poético. É um desfile de indignações, um grito que estava entalado.
No fundo, é uma juventude dizendo: isso aqui vai mal, e queremos mudanças.
Eu sei que pra quem já não é mais tão jovem, talvez as ambigüidades gritem muito forte.
E que não é tão fácil assim fazer coro em palavras de ordem mal forjadas.
Mas esta “revolta do vinagre” é a poesia que faltava para temperar nossos sonhos.

Em 1962 Dylan, com apenas 22 anos, encadeou perguntas profundas.

 

A primeira, em uma tradução livre e criativa, era assim:
quantas ruas um homem deve tomar
antes que o chamem de homem?”
O autor, como você deve saber, não responde às questões,
apenas aponta para onde podemos encontrar as respostas:
a resposta, meu caro, ela vem com o vento
e faz do tempo seu invento” 
(eu sei, ele não diz assim tão na cara, Dylan deixa um vazio)


(Arnaldo, quase Daniel, Antunes:
tudovemdoventodovemdoventovemtudo
 (é      é        é
yansã do balé
dança tuda dança
e bora-longe 
com o qe num se qé))


No outro ano estava Dylan ao lado de Martin Luther King no Central Park
cantando para uma multidão, da qual, alguns anos depois, com a morte de Martin
brotaram black panter's. : ação armada contra a violência social, nos USA.
Nessa mesma época, por aqui, temos o ítalo-negro usá, Carlos Mariguela
revolucionário poeta – cuja música preferida era “A Banda”, de Chico 
(com também seus vinte e dois anos)
Chico é nosso Dylan. Putz, não me lembro de ter escutado isso,
mas parece tão natural que não rogo pra mim a autoria do paralelo!


(ps.: “estava à toa na vida e meu amor me chamou” 
é quase um “saímos do facebook”)


O fato de Mariguela ser encantado pela “A Banda”, que é uma canção em que,
apersar de ser alegre, bonita e singela
o passado volta a imperar sobre o futuro,
e a alegria da catarse vai e voa fácil no vento,
isso é muito sugetivo.


Tal como Dylan, esse cantor branco de olhos claros
mas que também preserva seu pé na senzala
(não nos esqueçamos que “Blowing in the wind” é
abertamente inspirada num negro spiritual:



(você sabe que o negro spiritual é uma música de pobres agricultures, marginalizados,
onde, apesar de religiosa, encontramos versos que são dicas de fuga
coisas do tipo: sempre se deve passar pelo rio... (ele despista os cães farejadores)
vá em direção ao som do sino, por alí você encontrará apoio e abrigo...
bem, e você sabe o que significa palmares, samba, capoeira e candomblé,
né?)


bem, tal como Dylan, (lembremos que somos antropófagos culturais)
Buarque inspira a geração de negros das próximas décadas
lá, de Martin Luther King ao rap
cá, de Carlos Mariguela ao rap nacional:


Confesso que por diversas vezes me indaguei sobre a validade dessa perspectiva
a violência seria mesmo o melhor caminho? 
acontece que Mano Browm fala de dentro da megametrópole devoradora de homens.
SP, onde os muros gritam por mais amor, 
viu só um pouco do que acontece cotinianamente na periferia da cidade.




Todos sabem que o Criolo está na crista da onda
dando nó nos ouvidos da classe média.
Pois bem, já vi vários vídeos 
de uma galera diluindo a informação pedrada que o Criolo propõe.
(reflexo dessa cultura de superficialidades)...
mas, 
porém, 
contudo e toda via
é essa galera que nos enche de esperança
de que quando a banda passar, pois ela vai passar,
as coisas já não estejam mais no lugar em que estavam.

Que o vento nos revele a história.

Evoé, jovens artistas!


João de Carvalho 














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