domingo, 20 de janeiro de 2019

O Livro e o Sagrado dos Racionais

João de Carvalho


Ano passado me atropelou, acabou que não movimentei o blog.
Enfim, 2019. 20 dias de Bolsonaro. Teremos muito trabalho.
Inicio o doutorado em literatura estudando RAP.


O Hip-hop é maior que o RAP, que é maior que um único grupo musical.
Mesmo assim, os Racionais constituem a família mais importante do cenário do RAP nacional.
Racionais MC's é a mais poderosa máquina de guerra cultural em atividade pra essa "Era" que iniciamos.

"A máquina de guerra entretém com as famílias uma relação muito diferente daquela do Estado. Nela, em vez da ser célula de base, a família é um vetor de bando, de modo que a genealogia passa de uma família a outra, segundo a capacidade de tal família, em tal momento, em realizar o máximo de solidariedade agnática. ... O que estamos querendo dizer, na verdade, é que os corpos coletivos têm franjas ou minorias que reconstituem equivalentes de máquinas de guerra, sob formas por vezes muito inesperadas, em agenciamentos determinados tais como construir pontes, construir catedrais, ou então emitir juízos, ou compor música, instaurar uma ciência, uma técnica..." Deleuze e Guattari, Mil Platôs vol. 5, páginas 33 e 34.



Por estes dias foi que vi fisicamente, na casa de um mano, o livro Sobrevivendo no Inferno, dos Racionais MC's, lançado ano passado pela Companhia das Letras. Só pelas chamadas virtuais do lançamento eu não havia prestado muita atenção, mas agora vendo-o nas mãos, é que fui compreender melhor a importância do fato. O livro tem as folhas com laterais douradas, parecendo uma Bíblia! rs
Não é só um livro; é um livro místico, sagrado.

Fez inclusive o caminho natural desta espécia de literatura; consagrou-se como literatura oral dentro da cultura nacional para só então se tornar um texto impresso em forma de livro. 


É importante ter em mente que todo o retrocesso social que estamos vivendo foi preparado culturalmente dentro dos cultos neo-pentecostais. É esse o campo de disputa que os Racionais conseguem tocar. As canções, passados 21 anos de escutas e vidas envolvidas, tornam-se bibliografia para o vestibular de uma das principais universidades do país. 

Vale a pena acompanhar alguns vídeos - que tb são textos/documentos. 
Segue uma lista de sugestões complementares, além das já articuladas neste texto:

Existem muitos níveis de leitura e de importância desta obra, e um deles, numa das superfícies mais profundas, talvez seja justamente a articulação de uma cultura oral, multimeios, com o universo do livro. Essa articulação, parece-me, é uma das linhas de fuga, um dos campos à serem explorados para a militância dos próximos anos. O estímulo à leitura pode, de muitas formas (isso eu desenvolvo melhor em outro texto), se tornar uma estratégia de sobrevivência de bando fundamental neste momento que vivemos. 



Claro que isso tudo não é novidade. 
Mas, pra mim, é uma comovente atualização das intensidades deste momento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário