O rapper Sabotage é o maior símbolo do RAP nacional. Uma espécie de mártir. E depois de mais de uma década temos mais um disco clássico do maestro do Canão. Nesse momento de várias retomadas do hip-hop nacional - RZO voltou pesado!!!; Criolo relançando o Ainda Há Tempo; Racionais, Eduardo... vários - a voz de Sabotage chega meio que impondo ordem. Quase como a voz inconteste, vinda com a sapiência do além.
O disco não viria com uma produção qualquer, é claro. E coube ao mestre Daniel Ganjaman assinar mais um disco clássico da música brasileira. Com um domínio apurado das texturas, cortes, tempos e planos que se intercambiam.
Quero falar de uma coisa
Adivinha onde ela anda
Deve estar dentro do peito
Ou caminha pelo ar
Pode estar aqui do lado
Bem mais perto que pensamos
A folha da juventude
É o nome certo desse amor
Já podaram seus momentos
Desviaram seu destino
Seu sorriso de menino
Quantas vezes se escondeu
Mas renova-se a esperança
Nova aurora a cada dia
E há que se cuidar do broto
Pra que a vida nos dê
Flor, flor e fruto
Coração de estudante
Há que se cuidar da vida
Há que se cuidar do mundo
Tomar conta da amizade
Alegria e muito sonho
Espalhados no caminho
Verdes, planta e sentimento
Folhas, coração
Juventude e fé
O movimento de ocupações se espalha pelo país. Mas esse play de hoje é especial aos meus queridos alunosamigos que ocuparam o prédio do curso de música, no qual me formei e no qual trabalho. Sou um eterno aprendedor nestes corredores, nestas salas... enfim. Parabéns!
Estudantes do curso de Música da UEL ocupam mais um prédio do CECA, e somam-se aos já ocupados estudantes do curso de Artes Cênicas. Na foto, os dois cursos em frente do prédio de Música.
Chico Buarque é, pro Brasil, o mestre cancionista vivo mais importante nesse momento. No dia do golpe parlamentar que retirou Dilma da presidência, Chico Buarque foi citado tanto por quem votava à favor como por quem votava contra. Dentre suas várias canções que se tornaram hinos contra a ditadura, Cálice ocupa um posto central.
Colégio Vicente Rijo. O maior de Londrina e segundo maior do estado. Foto Gustavo Carneiro.
No dia 6 de outubro eu avisava os amigos e alunos que no Paraná já estávamos com 20 escolas ocupadas. No dia 7, jovens secundaristas ocuparam o primeiro colégio em Londrina. Foi o Albino Feijó Sanches, na ZS, já desocupado por mandato judicial. Porém o número de escolas ocupadas já passa de trinta, só em Londrina. No estado do Paraná, que está com o movimento de ocupações mais elevado do país, a conta passa de 850 escolas. Número bem maior que as 198 escolas ocupadas no estado de São Paulo no final do ano passado contra as medidas de Geraldo Alckmin. Hoje, dia 24 de outubro, estamos iniciando a terceira semana de ocupações e a segunda semana de greve dos professores. Mas as pautas, infelizmente, ainda não são as mesmas. Os estudantes estão mobilizados contra as MP 746 e PEC 241 (que afeta também a saúde e a assistência social por 20 anos) e gritam ao fundo destes enfrentamentos o brado Fora Temer! Os professores, nem todos é claro, não gritam com convicção nem o Fora Richa! Eles murmuram mais assim: Richa Caloteiro!
Esse é o contexto de escuta, ok!?
Dá o play:
Enquanto pedalava pra ir dar aula nos colégios ocupados sempre me vinha esse refrão:
"O-cu-par e resistir, ocupar e resistir.
O-cu-par e resistir, ocupar e resistir."
Se trata da canção dos estudantes Lucas Penteado (19) e Fabrício Ramos (17) com os músicos produtores Rodolfo Krieger e Duda Machado.
Ocupar e Resistir
Letra: Koka e Fabricio Ramos
Salve família Secundarista na voz Vai segurando De São Paulo pro mundo A rua é nossa Você tem sede do quê? Eu quero outra escola Não mexe com quem tá quieto
Acordei olhei pro lado Vi manifestação E do outro lado vi Uma pá de ocupação Enquanto uns gritavam felizes É campeão Outros apanhavam e lutavam Pela educação Política desinteressante Causada pela corrupção Estigma digna indignação Qual seria o tema do Debate em questão Gol da Alemanha Ou senador no mensalão Suor cansaço Causado pela exaustão Fome e morte Causada pela ambição Enquanto nas ruas O que se vê é opressão Auto opressão E na mídia Alienação E quem será o culpado em questão Aquele que é eleito Ou aquele que Vota na eleição
Direita tropa de choque Em cima o governo fascista Esquerda argumentação Embaixo secundarista (2x)
Ocupar e resistir (8x) Quantos lutaram Gritaram faleceram Mais de mil? Aqui vai virar o Chile Ou o Chile virou o Brasil?
Memorável Luta consciente E coincidentemente incrível E é difícil e dói saber E descobrir Que a única coisa Que cresce mais que a inflação É o genocídio Só pra deixar bem claro, irmão Não tem arrego Você fecha a minha escola E eu tiro o seu sossego.
Salve família A rua é nossa
Ocupar e resistir (25x)
Os secundaristas mobilizados lutam pela possibilidade de sonharem.
No caso, agora, isso se mostra no enfrentamento com as MP e PEC mencionadas.
Mas eles não são ingênuos e sabem que a luta vai além.
Estou torcendo para os professores (re)aprenderem cada vez mais com este processo
com estudantes que nos mostram claramente
a força que temos quando acreditamos nos sonhos e na poesia.
Isso o hip-hop ensina a todo momento,
e não é por acaso que a forma de expressão utilizada pelos secundaristas é um RAP.