João de Carvalho
Vamos começar pela constatação de que vivemos uma guerra, ok!?
São índices de guerra mesmo, com mortes diárias.
No RAP é comum, por exemplo, a metáfora da geografia local - periferia - com a Faixa de Gaza.
Se você ainda não se convenceu disso eu sugiro que vc escute a fala do Eduardo, um MC muito importante dentro do hip-hop. Vê o que ele fala aqui: Suburbano Entrevista.
E nesse ritmo de um lançamento áudio-visual por mês, justamente
ontem, no fatídico dia 31 de agosto de 2016, Emicida lançou sua
homenagem às Mães de Maio.
Certo, ocorre uma guerra em nosso país, mas é difícil de perceber que ela existe pois não é uma guerra comum, daquele tipo que se aprende na história. Essa guerra daqui é maquiada, camuflada, e as bandeiras muitas vezes se confundem.
É importante dizer isso pois esse é o contexto do novo clipe do Emicida: um cenário de guerra camuflada.
Confiram o novo clipe aqui: Chapa
Existe um mote dentro do hip-hop que é "se a história é nossa, deixa que nóis escreve...". Emicida vem trabalhando muito bem nesse sentido, e quase todo clipe que ele lance vem acompanhado de um mini documentário, de modo que o público sempre pode se aprofundar de cara na escuta e compreender melhor várias questões. Foi assim com o clipe de Boas Esperança, que saiu já acompanhado de um mini documentário contando sobre a construção do enredo e as vivências na ocupação Mauá. Como vocês viram, no clipe de Chapa, o vídeo traz a questão das consequências dessa guerra real, cujo alvo é a pele negra, no relato da Mães de Maio. Emicida lançou no mesmo dia, pelo portal Jornalismo Periférico, uma entrevista sobre o lançamento do clipe. Assistam aqui: Chapa pode ser qualquer um de nós
Chapa é uma canção do último disco do rapper paulista Emicida. O álbum é um projeto que envolveu uma viagem para três países da África e problematiza a questão da escravidão em nosso país. O primeiro vídeo que lançado como divulgação do álbum foi Mufete, uma canção sobre as periferias africanas. O segundo foi o bombástico Boa Esperança, onde o MC apresenta uma rebelião de empregadas domésticas. O terceiro foi a doce Passarinhos, onde o clipe sugere um banditismo literário, em que jovens roubam livros de sebos. O quinto foi o clipe de Mãe, um novo diálogo cancional entre Emicida e dona Jacira (o primeiro foi na lapidar Crisântemo). O sexto foi o clipe de Madagascar, onde entramos no sonho de um empacotador de mercado. E nesse ritmo de um lançamento áudio-visual por mês (!!!), justamente ontem, no fatídico dia 31 de agosto de 2016, Emicida lançou sua homenagem às Mães de Maio.
Pra mim o recado a mensagem bateu de cara assim, como uma sincronicidade da rede, se cuida, Chapa.
Infelizmente a guerra vai esquentar.